A Suprema Corte do Nepal determinou na quarta-feira a soltura antecipada por motivos de saúde e a deportação para a França em um prazo de 15 dias. Ele foi libertado na sexta-feira e embarcado em um voo no aeroporto de Katmandu com destino a Paris, com uma escala em Doha. Charles Sobhraj em imagem de 2011
Navesh Chitrakar/Reuters
O assassino francês Charles Sobhraj, conhecido como “A Serpente” e que cometeu uma série de homicídios na Ásia nos anos 1970, chegou à França neste sábado (24), depois de passar duas décadas na prisão no Nepal.
Sobhraj, de 78 anos, desembarcou no aeroporto Roissy Charles-de-Gaulle, na região de Paris, após um voo procedente de Doha (Catar).
A Suprema Corte do Nepal determinou na quarta-feira a soltura antecipada por motivos de saúde e a deportação para a França em um prazo de 15 dias. Ele foi libertado na sexta-feira e embarcado em um voo no aeroporto de Katmandu com destino a Paris, com uma escala em Doha.
Durante o voo, Sobhraj insistiu que era “inocente”.
Me sinto ótimo. Tenho muito a fazer. Tenho que processar muita gente. Incluindo o Estado do Nepal”, declarou Sobhraj à AFP a bordo do avião.
Ao ser questionado sobre se acreditava ter sido descrito, erroneamente, como um assassino em série, ele respondeu: “Sim, sim”.
No aeroporto francês, a polícia de fronteiras procedeu a verificação da identidade e ele deixou o local de maneira discreta, segundo uma fonte que trabalha no local, ignorando os muitos jornalistas que o aguardavam.
De acordo com esta fonte, Sobhraj “não é procurado nem perseguido” na França.
“Estou muito feliz”, declarou sua advogada francesa, Isabelle Coutant-Peyre, que estava no aeroporto para receber Charles Sobhraj.
“Ele foi condenado injustamente em um processo fabricado com documentos falsificados pela polícia nepalesa. É um escândalo, o apresentam como um ‘serial killer’, o que é completamente falso”, acrescentou.
“Assassino do biquíni”
A história de Sobhraj foi relatada na série “O Paraíso e a Serpente”, uma produção da Netflix e BBC.
Nascido em Saigon, de pai indiano e mãe vietnamita, que se casou mais tarde com um francês, Sobhraj teve uma vida internacional de criminalidade que o levou à Tailândia em 1975.
Fingindo ser um negociante de joias, fez amizade com as vítimas, muitas delas mochileiros ocidentais, os quais drogava, roubava e matava.
De aparência dócil e sofisticado, ele foi acusado pelo assassinato de uma jovem americana que teve o corpo encontrado em uma praia em 1975.
Apelidado de “assassino do biquíni”, Sobhraj foi vinculado a mais de 20 homicídios.
Ele foi preso na Índia em 1976 e passou 21 anos na prisão, com uma breve saída em 1986, quando fugiu e foi recapturado no estado costeiro de Goa.
Libertado em 1997, viveu em Paris, onde cobrava para dar entrevistas, mas voltou ao Nepal em 2003. Ele foi localizado em um cassino no distrito turístico de Katmandu pelo jornalista Joseph Nathan, um dos fundadores do jornal Himalayan Times, e depois detido.
“Parecia inofensivo (…) Foi pura sorte que o tenha reconhecido”, disse Nathan à AFP na quinta-feira. “Acho que foi carma”.
Um tribunal do Nepal o condenou à prisão perpétua pelo assassinato em 1975 da turista americana Connie Jo Bronzich. Uma década depois, ele foi declarado culpado pelo assassinato do parceiro de Bronzich, um canadense.
No avião que o levou a Doha, Sobhraj insistiu em sua inocência nos dois assassinatos no Nepal.
“Os tribunais do Nepal, da corte distrital à Suprema Corte, todos os juízes tinham preconceitos contra Charles Sobhraj”, afirmou.
“Sou inocente dessas acusações, ok? De modo que não tenho de me sentir mal, nem bem, por isso. Sou inocente. Tudo foi baseado em documentos falsos”, acrescentou.
O policial tailandês Sompol Suthimai, cujo trabalho com a Interpol foi crucial para a detenção do francês em 1976, pressionou para obter a extradição de Sobhraj para a Tailândia, para que ele fosse julgado pelos assassinatos cometidos no país.
Sompol, no entanto, declarou à AFP na quinta-feira que não era contrário à libertação porque tanto ele como o criminoso que perseguiu estão muito velhos.
“Não tenho sentimentos por ele depois de tanto tempo”, afirmou Sompol, de 90 anos. “Acho que ele já pagou por seus atos”.
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