A Inteligência Artificial tem se consolidado como uma ferramenta estratégica para enfrentar um dos maiores desafios da saúde pública: o diagnóstico precoce do glaucoma. Conhecido como o “ladrão silencioso da visão”, o glaucoma é a principal causa de cegueira irreversível no mundo. Afeta milhões de pessoas sem apresentar sintomas iniciais e, na América Latina, três em cada quatro portadores da doença sequer sabem que convivem com ela.
Entre as soluções mais avançadas está o RetinaLyze, software que utiliza algoritmos treinados em milhões de imagens para analisar fotografias da retina e do nervo óptico. A tecnologia identifica alterações sutis que indicam risco de glaucoma ainda em fases iniciais, quando o tratamento pode evitar a progressão da perda visual. O sistema mede pixel a pixel a quantidade de hemoglobina nos vasos sanguíneos e detecta áreas de baixo fluxo, características da doença, com precisão que se aproxima da análise feita por especialistas.
O grande diferencial está na capacidade de levar esse exame a qualquer lugar. Portátil, barato e de rápida execução, o procedimento pode ser realizado em m consultórios, assim como postos de saúde e até mesmo em programas de telemedicina. Técnicos em oftalmologia conseguem capturar as imagens, que são processadas em segundos pelo software, liberando os médicos para se concentrarem nos casos mais graves. Estudos mostram que a adoção desse tipo de triagem pode reduzir em até 60% a sobrecarga do sistema de saúde.
No Brasil, onde mais de 1 milhão de pessoas já convivem com o glaucoma e cerca de 2% da população acima dos 40 anos está em risco, a ausência de políticas de rastreamento sistemático faz com que a maior parte dos diagnósticos aconteça tardiamente. A Inteligência Artificial, ao integrar tecnologia ao cuidado coletivo, oferece a possibilidade de mudar esse cenário. “Um exame para ser considerado bom para triagem de glaucoma tem de ter a seguintes características: ser barato, depender pouco da variabilidade de resposta do paciente e principalmente ser preciso.
Dentre todas as tecnologias disponíveis, acredito que o Retinalyze é o que mais se aproxima do que é o ideal para a triagem populacional.”, disse o oftalmologista Roberto Lauande.
Além de prevenir a cegueira, o impacto social é amplo: milhões de brasileiros poderão ter acesso a exames antes restritos a centros especializados, democratizando o cuidado e tornando a saúde ocular mais eficiente. Para especialistas, o uso da IA em larga escala representa não apenas inovação, mas também uma resposta concreta a um problema crônico da saúde pública. “Dentre todas as tecnologias que já tive experiência com glaucoma, é o que tem a maior capacidade de fazer a triagem populacional”, garante o médico. O exame ajuda os oftalmologistas a tomar decisão prática, afirma.