Imagine precisar sacar dinheiro ou resolver um problema presencialmente no banco — e, para isso, ter que percorrer quilômetros de distância até a agência mais próxima. Essa será a realidade enfrentada mais de 70 mil clientes do Itaú e do Bradesco, tanto na capital baiana quanto em cidades do interior do estado.
Considerados os maiores bancos privados do país, as duas instituições vêm reduzindo suas operações presenciais em diversas regiões. Em Salvador, ao menos três agências do Itaú serão fechadas. No interior, cidades que contam com apenas uma unidade do Bradesco também estão sendo afetadas com o encerramento dos serviços presenciais.
As multinacionais possuem operações em diversos países, incluindo Chile, Uruguai, Paraguai e Portugal, chegando até cidades como Hong Kong, Tóquio e Nova York. Apesar disso, o fechamento desordenado afeta mais de 70 mil clientes em diversas cidades da Bahia, muitos deles idosos. O BNews levantou informações sobre as principais agências fechadas. Confira:

Itaú
Na capital baiana, o cenário do Itaú é alarmante para pensionistas e beneficiários do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), segundo informações obtidas pelo BNews, por meio do Sindicato de Bancários da Bahia (SBBA). As agências do Itaú dos bairros do Cabula, Brotas e Imbuí podem ter suas operações encerradas durante o fim do mês de junho e início de julho, sendo estas as únicas agências da instituição nos respectivos bairros.
Se concretizado, o fechamento das sucursais irá aumentar o deslocamento de 72mil clientes, sendo 8 mil deles beneficiários do INSS, além de 61 funcionários que, apesar do banco atestar que ninguém será demitido, ainda não sabem para onde irão.
No início deste ano, a unidade do Itaú em Pernambués fechou as portas. A próxima a ser fechada será a de Brotas, também conhecida como agência 2057, localizada no Shopping Brotas Center, na Avenida Dom João VI. Segundo o SBBA, o encerramento das atividades aconteceu na última quarta-feira (25). Os funcionários foram informados sobre o fechamento há cerca de um mês. Atualmente, a unidade atende 17 mil clientes, incluindo 3 mil aposentados do INSS, que serão direcionados para a agência da Pituba e Itaigara. Além disso, a agência emprega 18 funcionários que ainda não receberam instruções sobre sua realocação.
A próxima na lista de corte do Itaú é a agência 7360, localizada na Rua Silveira Martins, no bairro do Cabula. Hoje, a instituição atende uma média de 25 mil clientes, desses 3.7 mil são idosos e beneficiários do INSS. Com o fechamento previsto para o dia 9 de julho, os consumidores serão redirecionados para a sucursal do Shopping Max Center, no bairro Itaigara. A filial bancária emprega 24 funcionários, que também desconhecem os caminhos que irão seguir com o fechamento da franquia do Itaú.
Localizada na rua Codornas, no bairro Imbuí, a agência 3217 também está com os dias contados. Com uma cartela de 30 mil clientes, sendo 2 mil deles beneficiários do INSS, a previsão de fechamento da unidade é o dia 16 de julho. Os clientes serão direcionados para as franquias do bairro de Itapuã. Contudo, os 19 funcionários da agência — assim como as demais — desconhecem informações sobre o realocamento deles.

Bradesco
No interior do estado, a situação também é alarmante para os clientes do Bradesco. Mais de 20 agências foram fechadas em todo o estado. Destas, cinco municípios que contavam com apenas uma unidade e viram as atividades encerradas. Conforme dados consultados pelo BNews, as previsões indicam que mais duas agências estão na lista de fechamento para este ano.
Em 2024, segundo aponta o Sindicato dos Bancários de Campo Grande MS e Região, a holding Bradesco — empresa de participações do Bradesco — encerrou as operações de mais de 2 mil postos de trabalho. Apesar disso, a base de clientes cresceu em 3,2 milhões em relação a 2023, totalizando 109,1 milhões de usuários.
O número de agências bancárias também sofreu uma significativa redução, com o fechamento de 390 filiais, 903 postos de atendimento e 92 unidades de negócios em um período de doze meses. No total, 2.305 agências de atendimento ao cliente foram afetadas, incluindo 728 postos e unidades de negócios. Na Bahia, 26 sucursais foram desativadas em cidades como Mucugê, Cairu, Mar Grande e Laje.
Além disso, os municípios de Olindina, Palmeiras, Rodelas e Ipacaetá, que contavam apenas com uma agência do banco, também tiveram suas atividades encerradas. Ainda no contexto de fechamento, as próximas filiais a serem desativadas serão as de Rio do Pires e Itagimirim.
Unidades do Bradesco que foram fechadas na Bahia:
- Antas
- Banzaê
- Sítio do Quinto
- Coronel João Sá
- Itaite
- São Felex do Coribe
- Javi
- Ibitiara
- Mucugê
- Abaira
- Barra do Rocha
- Gongogi
- Nova Soure
- Itapicuru
- Botuporã
- Valente
- Barrocas
- Lamarão
- Boninal
- Cairu
- Igrapiuna
- Ibitiara
- Wenserlau Guimarães
- Laje
- Adustina
- Novo Triunfo
- Heliopólis
- Mar Grande
Maiores prejudicados
Com o fechamento de diversas agências, o sindicato destaca que essa ação demonstra uma “falta de responsabilidade social em relação aos bancários, que estão enfrentando a perda de empregos ou sendo forçados a trabalhar em condições extremas, e aos clientes, que são tratados apenas como instrumentos para impulsionar a lucratividade”, aponta Ana Beatriz Leal, membro da organização
Em entrevista ao BNews, Andréia Sabino, funcionária do Itaú e primeira presidente da Federação dos Bancários da Bahia e Sergipe (Feebbase), também refletiu a respeito do impacto do encerramento das atividades.
“Nossa maior preocupação — mesmo avisando os clientes e os funcionários com antecedência — é o fechamento de agências em bairros populosos. Perdemos no ano passado a agência Piedade, a agência Liberdade, e me parece que o banco não realiza um estudo, nem demonstra preocupação com as agências que deixaram de atender um número grande de clientes. O fechamento dessas agências reflete isso de uma forma mais preocupante e desenfreada”, pontua Andréia.

Quando o banco anunciou o fechamento das agências da Piedade e da Liberdade, que atendiam um grande número de aposentados e idosos, e estava bem no centro, a todo momento o banco informou que haveria uma agência nas Mercês. No entanto, com o fechamento dessas agências [Brotas, Imbuí e Cabula], não haverá um direcionamento adequado, pois não há outra agência próxima”, destacou Andréia.
Além disso, Luciana Dória, funcionária do Itaú, diretora da Feebbase e membro da Comissão de Organização dos Empregados (Coe) do Itaú, evidência que este movimento representa falta de cuidado com o público.
“Essa é uma situação preocupante e demonstra a falta de empatia e responsabilidade social do banco privado mais lucrativo do país [Itaú]. O fechamento acelerado das agências do Itaú, está provocando desemprego e impactando a acessibilidade do atendimento presencial ao deslocar contas para bairros mais distantes, essa atitude viola veementemente as normas do Banco Central e o direito consumerista de milhares de clientes”, reivindicou a diretora do Coe.
Ana Beatriz Leal, integrante do corpo bancário, também expressou sua indignação sobre o encerramento das atividades, ressaltando que a ação demonstra uma “falta de responsabilidade social em relação aos bancários, que estão perdendo seus empregos ou sendo forçados a trabalhar em condições extremas, e aos clientes, que são vistos apenas como instrumentos para aumentar a lucratividade”, reclamou Ana.
Lucro aumentando e as demissões também
Uma das grandes preocupações de quem trabalha nessas agências é o medo da demissão. Apesar do banco informar que ninguém será despedido, o histórico mostra o contrário. Em 2024, o banco Itaú fechou 219 agências físicas, encerrando o ano com 2.272 postos de atendimento em todo o país.
Diante do cenário, no somatório de 2024, segundo o Sindicato dos Bancários de Campinas e Região (SBCR), a empresa despejou mais de 86 mil colaboradores. Embora tenha criado 373 vagas ao longo do ano, o último trimestre registrou o fechamento de 635 postos de trabalho.
O cenário no também Bradesco é alarmante. Em 2024, a instituição registrou 2.200 demissões em todo o país, das quais 193 ocorreram na Bahia. A reportagem do BNews, realizou um comparativo entre os anos de 2023 a 2025, e foi percebido que o ano passado foi o período com o maior número de demissões. No entanto, ao somar os números dos três anos, o total se aproxima de 300 demissões.
O clima, sempre que uma agência vai fechar, é de incerteza. Os funcionários não sabem para onde serão realocados. Precisamos visitar as agências constantemente para ver os colegas, e ao chegarmos nessas agências que estão recebendo essas informações, o ambiente é realmente horrível”, pontuou Luciana Dória, funcionária do Itaú e diretora da Feebbase.
“Eles estão ansiosos e ainda não sabem qual será seu destino. Foi apenas informado que ninguém será demitido, mas todos sabem que essa situação gera um risco muito grande. Às vezes, o impacto não é só para os colegas da mesma agência, mas também para aqueles de outras agências que irão receber mais funcionários e, consequentemente, ficarão sobrecarregadas. Embora se diga que isso pode aumentar a produtividade e melhorar os serviços, a verdade é que a adaptação à nova realidade acaba sendo desafiadora”, desabafou a servidora.
O Itaú encerrou o primeiro trimestre de 2025 com um lucro líquido recorrente gerencial de R$ 11,12 bilhões, crescimento de 13,9% em relação ao mesmo período de 2024, segundo balanço divulgado neste início de mês. Em comparação com o quarto trimestre do ano passado, o aumento foi de 2,2%.
O retorno anualizado sobre o patrimônio líquido médio (ROE) alcançou 22,5%, superando os 21,9% registrados um ano antes e os 22,1% do trimestre anterior. Com esse resultado, o banco manteve vantagem sobre concorrentes como Santander (17,4%) e Bradesco (14,4%). Nas operações no Brasil, o ROE chegou a 23,7%.
Diante dos transtornos, a reportagem do BNews entrou em contato tanto com o Itaú com com o Bradesco para compreender questões sobre o encerramento das agências e as demissões em massa.
Em nota, o Bradesco informou que “tem promovido algumas mudanças em seu modelo de atendimento, transformando parte de suas agências em unidades de negócio”, pontou. Este procedimento, conforme a empresa, vem acontecendo porque “atualmente 98% do total “de operações feitas pelos clientes do banco acontecem por meio dos canais digitais. “Dentro desse processo, algumas agências passam por uma adequação do seu tamanho físico e outras por uma unificação”, destacou o banco.
Por fim, a instituição financeira ainda reforçou que “os clientes continuam tendo acesso aos principais serviços bancários através das unidades do Bradesco Expresso, rede de correspondentes bancários do banco disponíveis em estabelecimentos comerciais e que funcionam em horário ampliado ao das agências, além dos canais digitais do Bradesco, pelo aplicativo e internet banking”.
Já o Itaú Unibanco informou que avalia constantemente a adequação de sua rede de agências às necessidades dos clientes, que têm optado cada vez mais pela utilização de canais digitais, como internet, aplicativos e agências digitais.
Além disso, o a instituição reitera “que a presença física das agências segue como um pilar estratégico para a instituição, permitindo ao banco atender os clientes de acordo com suas preferências, seja presencialmente ou por canais digitais”.