Apesar de uma projeção econômica não tão animadora, relatos de brasileiros demonstram otimismo para o próximo ano. O que brasileiros querem em 2023
“A gente ainda tem esperança de que vai ser um ano melhor. O brasileiro vive de esperança, né? Essa é a verdade. E eu não poderia pensar diferente. Tem que pensar positivo.”
Joanisa Oliveira, de 53 anos, resume com essa frase o sentimento de muitos brasileiros, que estão otimistas e confiam em conquistas financeiras para 2023, apesar de uma projeção econômica não tão animadora.
A expectativa do mercado é que o Produto Interno Bruto (PIB) cresça apenas 0,75% no ano que vem, segundo o relatório “Focus” divulgado em 5 de dezembro pelo Banco Central do Brasil (BC).
Joanisa Oliveira, de 53 anos, quer ter um emprego formal em 2023.
André Catto/g1
Mas é com esperança que Joanisa enfrenta as dificuldades — inclusive as impostas pelo mercado de trabalho. A enfermeira, formada aos 40 anos de idade, carrega o diploma debaixo do braço enquanto trabalha como ambulante para sobreviver.
“Com 53 anos, conseguir um emprego não é fácil. Ainda é um tabu, né? Não sei por que, mas não é fácil”, desabafa.
Objetivo: mercado formal
É do pacote de cenoura, de mandioca, de cebola e de tomate, entre outros legumes e verduras, que ela tira o sustento. Mas, mesmo com o “plano b” protagonizando o atual momento de vida, a esperança de Joanisa é mudar esse roteiro já em 2023.
“Eu quero sair da informalidade. Acho que a maioria dos brasileiros quer isso. Não significa que esse serviço é indigno. Mas a gente não tem direito nenhum. Então, não é vantagem ser informal. E eu acredito que vou conseguir mudar”, diz.
Joanisa faz parte de um grupo bastante expressivo no Brasil. Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, do IBGE, o país tinha 38,965 milhões de trabalhadores informais em outubro, o que representa 39% da população ocupada.
Obras inacabadas
Os objetivos de José Carlos Santos, de 48 anos, são outros. Mas a luta é a mesma: o trabalho como ambulante garante a principal fonte de renda na busca por seu principal objetivo de 2023 — após um ano pessoalmente bastante difícil.
José Carlos Santos, de 48 anos, quer terminar as obras de ampliação da casa dele.
André Catto/g1
“Espero que as coisas melhorem para eu terminar as obras na minha casa. Eu ‘bati’ a primeira laje, e falta a segunda, que é para finalizar. Mas o dinheiro acabou, e a reforma ficou parada esse tempo todo”, lamenta.
Zé, como costuma ser chamado, mora com a esposa e os quatro filhos em Cotia, na região metropolitana de São Paulo. Ele também trabalha com carreto, transportando móveis pequenos.
“Depois da casa, quem sabe poder trocar de carro? Vamos ver o andar da carruagem”, diz, enquanto mostra a picape estacionada perto da barraca em que vende bijuterias, guarda-chuvas, camisas e diversos outros itens.
‘Mais um cômodo e, quem sabe, um carrinho’
Ampliar a casa também é o objetivo da Silvia Helena da Silva, de 53 anos, que cria, sozinha, uma filha de 16 anos e um filho de 14. Com “as crianças crescendo”, a ideia dela é subir um segundo andar no imóvel localizado em Guaianases, no extremo leste da capital paulista.
Silvia Helena da Silva, de 53 anos, quer construir mais um cômodo em casa para o quarto dos filhos.
André Catto/g1
“Quero construir mais um cômodo. Para isso, tenho que dobrar os bicos. Se não, não consigo. Lá em casa, é só o meu salário. Então, tenho que correr atrás”, conta. “Eles querem ter o quartinho deles. O menino está até organizando o currículo para tentar uma vaga de jovem aprendiz e ajudar.”
Os bicos são como diarista, que consegue fazer após a jornada de 8 horas como porteira em um condomínio residencial em São Paulo — com carteira assinada.
“Pretendo também tirar a minha carta de motorista e, quem sabe, comprar um carrinho, né?”, diz, abrindo um sorriso no rosto. “A minha esperança é de que 2023 seja bem melhor para todo mundo.”
Casa própria e negócio novo
Enquanto uns planejam reformar a casa, outros têm planos de sair do aluguel. É o caso do Roberto Domingos, de 46 anos, que mora em Barueri, na Grande São Paulo, com a esposa e o filho Pedro Henrique, de 10 anos.
Roberto Domingos, de 46 anos, pretende conquistar a casa própria e abrir um negócio.
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“Estamos batalhando para comprar o nosso apartamento. Inclusive, quero fazer um esforço para conseguir dar [o valor de] entrada no início do ano que vem”, diz.
Domingos é mais um na lista de brasileiros que têm dois empregos: trabalha em uma empresa de transporte de pneus e itens para reciclagem, além de vender camisas de times de futebol e da seleção brasileira. Também tem experiência com tapeçaria — e pretende abrir o próprio negócio já no ano que vem.
“Meu objetivo é abrir minha lojinha até fevereiro. E ficaria com material esportivo aos fins de semana”, planeja.
Enquanto estende as camisas e bandeiras da seleção brasileira em um varal montado em frente à praça Charles Miller, no Pacaembu, ele fala sobre mais um plano importante para 2023.
“Estou buscando também sanar as dívidas, né? Se você tem o nome sujo, não consegue alavancar. E estamos conseguindo melhorar isso”, diz.
Contas em dia
São justamente as dívidas que atrapalham o sono da confeiteira Bárbara Damaris, de 33 anos. A empresária, que está no ramo há cerca de seis anos, abriu sua loja física há quase 12 meses, e espera justamente equilibrar as contas.
Bárbara Damaris, de 33 anos, pretende quitar dívidas e estabilizar seu negócio em 2023.
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“Para 2023, espero que a empresa esteja estabilizada. O objetivo principal é pagar as dívidas, que, no primeiro ano, infelizmente não tem como fugir. Ainda mais com a baixa no faturamento nos últimos três, quatro meses”, diz.
Para economizar e investir no negócio, a confeiteira decidiu morar por um tempo com a mãe, na região central de São Paulo — situação que pretende mudar no próximo ano. Trocar de carro e alugar uma casa nova também entram na lista de objetivos da empresária, que acredita em um ano positivo para o país.
“Tenho a impressão de que, quando há uma troca de governo — seja para qual lado for —, dá uma renovada. Acho que muitas pessoas vão estar mais animadas e vão voltar a comprar, a investir, fazer outras coisas”, diz.
Um teto
Emprego formal, casa reformada, fim do aluguel, negócio próprio, empresa estabilizada. Os relatos vêm carregados de sonhos, objetivos e esperança — palavras que, hoje, não existem no dicionário de Soraia Breches, de 41 anos.
Soraia Breches, de 41 anos, na região central de São Paulo.
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“O que eu espero para o ano que vem? Eu não espero nada nem para amanhã”, desabafa.
Soraia está em situação de rua há sete anos. Ela deixou de ter um teto após sofrer violência doméstica e se separar do homem com quem teve três filhas.
Abrigada por alguns dias debaixo do Elevado Presidente João Goulart, o Minhocão, na região central de São Paulo, ela vive em ambientes improvisados, ao lado de um novo companheiro. No local, se acomoda com dois sofás, um armário de madeira, itens pessoais, um colchão e pilhas de roupas.
“Quando vou para outro ponto da cidade, as coisas [sofás e armário] ficam. Isso aqui, vai. São as nossas coisas”, afirma, mostrando o cesto com roupas e algumas mochilas. “Eu largo tudo para trás e vou com ele, o meu bonitão”, continua, referindo-se carinhosamente ao companheiro.
Soraia Breches, de 41 anos, na região central de São Paulo.
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A realidade de Soraia é a mesma de dezenas de milhares de brasileiros pelo país, segundo levantamento da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), divulgado no meio deste ano. De acordo com o estudo, são 42.240 pessoas vivendo nas ruas em São Paulo. No país, o número passa de 180 mil.
“O que eu gostaria é de ter um teto. Ter um trabalho. Ou até com benefício daria para viver”, finaliza Soraia.
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