O Pavilhão Ambiental do Horto Florestal de Camaçari foi palco nesta terça-feira (11) do workshop “Da Tradição à Inovação: um diálogo sobre Povos Originários e Cidades Sustentáveis”. A iniciativa, promovida pelo Instituto de Ciência, Tecnologia e Inovação (ICTI) da Universidade Federal da Bahia (UFBA), contou com apoio da Prefeitura de Camaçari, por meio da Secretaria de Desenvolvimento Social e Cidadania (Sedes), e integrou a programação oficial do Novembro Negro. Estiveram reunidas lideranças de povos originários, pesquisadores e estudantes, em um encontro marcado pela escuta, pelo saber e pela construção coletiva.
O workshop foi um convite à reflexão sobre o tempo — da terra, da memória e da transformação — enfatizando tradições ancestrais no município, com o intuito de discutir caminhos possíveis rumo a cidades mais justas, humanas e sustentáveis. A manhã foi aberta pela palestra “Povos originários, urbanização e o caminho para a sustentabilidade”, sob condução do historiador, poeta e pesquisador da História da Bahia, Diego Copque.
“Todo saber é ancestral. Não é possível desenvolver o sentimento de pertença sem conhecer as suas raízes, sem saber das nossas origens. E tudo isso passa pela história. Camaçari precisa se apropriar do fato de que é um município dos mais antigos do Brasil, um território historicamente indígena, embora hoje tenha um perfil com muitos migrantes, por conta do processo migratório a partir do Polo Petroquímico na década de 70”, pontuou Copque.
Em seguida, o advogado, arquiteto e urbanista Juan Sterfan ministrou a palestra “Camaçari e o desafio de se tornar uma cidade sustentável”, propondo um olhar integrador entre planejamento urbano e responsabilidade social, com foco nos desafios de Camaçari para melhor integrar as comunidades que ficam muito distantes da sede.
“Pensar uma cidade sustentável é pensar em uma cidade que acolhe. O termo sustentável também está inserido no conceito de justiça social, inclusão e equilíbrio. De aproximar as comunidades e integrar o município inteiro. Falar de cidades resilientes e sustentáveis também é considerar o meio ambiente artificial, cultural e do trabalho. Esse evento é mais uma amostra da necessidade de diálogo entre as comunidades acadêmicas, o poder público e os povos originários que aqui habitam, para pensar em formas de se aproximar dessas pessoas, garantindo que elas também usufruam de um desenvolvimento sustentável”, realçou Sterfan.
O estudante do 4° semestre de Bacharelado em Ciências Tecnológicas e Informação, Fernando Luan Souza, esteve à frente da organização do evento e pontuou a motivação da iniciativa. “Fomos encorajados pelo nosso professor de Administração e Economia, que todo ano dá abertura para os alunos se organizarem. Trouxemos para discussão os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (OBS) da ONU, e que o Brasil é signatário, focando na proposta 11, que fala sobre cidades inteligentes, e na proposta 20, que trata sobre povos originários e comunidades tradicionais”, contou.
Por sua vez, o professor Milton Correia Sampaio Filho agradeceu a parceria da Prefeitura. “Um dos compromissos que nós tivemos e continuamos tendo é o de fomentar, pensar e fazer projetos que, de alguma forma, retribuam à Camaçari pela acolhida que nós tivemos. Este encontro mostra que tradição e tecnologia podem caminhar juntas, guiadas pelo propósito do bem viver”, afirmou.
Após as palestras, o evento também contou com roda de conversa e um momento de troca, em grupo, para apresentação das propostas coletivas, que contaram com visitas em campo à Vila de Abrantes e diálogos com representações da Aldeia Tupinambá de Abrantes. No período da tarde, a banca selecionou propostas para serem aplicadas ao longo do próximo semestre, de forma integrada e colaborativa com outros professores e matérias distintas.
Exposições de produtos artesanais produzidos pelos povos originários também estavam disponíveis para apreciação popular.
“O que acontece aqui hoje é especificamente uma organização feita pelos estudantes. Ao final, vamos selecionar, pelo menos, duas propostas de desenvolvimento sustentável para aplicar em Camaçari ano que vem”, finalizou Marlos de Jesus, do Núcleo de Inovação Tecnológica da UFBA.
Ao longo do encontro entre tradição e modernidade, Camaçari reafirma sua vocação para o diálogo, reforçando a política de valorização das identidades culturais e do desenvolvimento sustentável. O evento também marca mais um passo no fortalecimento das ações do Novembro Negro e da parceria com instituições de ensino e pesquisa na construção de uma cidade mais inclusiva, consciente e preparada para o futuro.
Foto: Juliano Sarraf


