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Conheça os principais desafios e caminhos para o fortalecimento das exportações baianas

Conheça os principais desafios e caminhos para o fortalecimento das exportações baianas

g1 ouviu especialistas no assunto, que apontaram a geração de energia limpa e o hidrogênio verde como alternativas para o estado conquistar mais espaço no mercado internacional.

A Bahia concentra quase 50% de todo o volume de exportações da região Nordeste e conta com 148 municípios que vendem para fora do país, sendo o quarto estado em proporção de localidades exportadoras, segundo o Panorama dos Municípios Brasileiros no Comércio Exterior, divulgado pela Secretaria de Comércio Exterior (Secex) do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC).

Extensa em território e diversidade, a Bahia tem diversos potenciais de expansão no âmbito industrial, um dos mais importantes para a economia do estado. Porém, o setor, que gerou quase 40 mil novos postos de trabalho no ano passado, tem muitos desafios para alcançar maiores resultados.

Carlos Danilo Peres Almeida, gerente de estudos técnicos da Federação das Indústrias do Estado da Bahia (Fieb), comentou que, embora a atividade industrial passe um momento relativamente positivo, com desenvolvimento considerável e grande concentração de exportadores, as commodities – matérias-primas que dão origem a outros produtos – ainda são a base dos itens comprados por outros países, e são negociadas em contratos de curta duração, o que dificulta a regularidade nos resultados.

“O caminho para o crescimento do mercado internacional está no investimento em produtos de valor agregado, exportar a gasolina em vez do óleo combustível, por exemplo. Mas isso é um processo de longo prazo, pois falar nisso é falar em repensar todo o ‘custo Brasil’, tributos, logística, legislação, para que possamos ter, de fato, produtos competitivos no mercado. A economia precisa passar por um amplo processo de desburocratização”, afirmou.

Todos os principais produtos exportados pela Bahia são commodities, que sofrem influência direta da demanda e do preço internacional. Esses fatores, aliás, vão impedir que 2023 registre uma curva de crescimento tão boa nas exportações quanto a do ano passado.

Dados do Relatório de Acompanhamento do Comércio Exterior, elaborado pela FIEB, apontam que, na Bahia, as vendas externas perderam força no primeiro semestre deste ano, com queda de 26,8% no volume de negócios, em comparação com o mesmo período de 2022. A tendência se mantém igual para o segundo semestre.

“Essa queda não decorre de algum problema logístico ou na economia nacional, mas da baixa demanda pelas commodities, carro-chefe das exportações baianas. Paralelo a isso, os principais mercados que compram do Brasil, a exemplo da China, Estados Unidos e países da União Europeia, sofreram desaquecimento das suas respectivas economias e, assim, compraram menos os nossos insumos”, explicou Carlos Danilo.

Em 2022, a Bahia bateu um recorde e atingiu US$ 13,91 bilhões em volume de negócios com o mercado internacional, um marco na série histórica. Contudo, especialistas consideram que o ano foi atípico.

“É importante destacar que 2022 foi um ano excepcional, puxado principalmente pelo óleo combustível. Sozinho, ele foi responsável por 26,7% das exportações, resultado de dois movimentos realizados pela Acelen, empresa que administra a Refinaria de Mataripe: a retomada das exportações como um todo e retomada da fabricação de bunker oil (óleo combustível para navio), que havia sido descontinuada quando a Petrobras vendeu a refinaria”, detalhou o professor de Economia da Universidade Estadual de Feira de Santana, Vladson Menezes.

Logística é gargalo a ser superado
A logística é um dos principais desafios para o crescimento das exportações na Bahia, quinto maior estado brasileiro em extensão territorial, com mais de 500 mil km². Os problemas estão em praticamente todos os aspectos, desde o transporte de mercadorias das estradas do interior aos portos no litoral, até a disponibilidade de navios cargueiros.

A soja, por exemplo, responsável por 18% das exportações baianas em 2022, percorre mais de mil quilômetros, saindo da BR-242, no oeste, até chegar ao Terminal Portuário de Cotegipe, localizado na área da Base Naval de Aratu. Essa viagem pode durar mais de cinco dias – parte disso, devido às más condições da estrada, em vários trechos.

Um levantamento realizado pela empresa de logística multimodal VLI, aponta que o Brasil perde, por safra, US$ 750 milhões em grãos, como soja e milho, por causa dos gargalos logísticos durante o transporte.

Ainda segundo o estudo, comparando modais, o custo total para transportar uma tonelada de grãos por caminhão chega a ser três vezes mais que o valor que seria pago pelo transporte em ferrovias e seis vezes maior, na comparação com hidrovias.

“É necessário um grande volume de caminhões para transportar toda a soja que vem do Oeste para o mundo, o que gera um alto custo para o produto. Repensar a estrutura logística é um fator muito importante para o crescimento das exportações do estado”, pontou Carlos Danilo.

Uma esperança para amenizar esse problema está na retomada das obras da Ferrovia Oeste-Leste, a FIOL, que passou uma década parada. A expectativa é que a construção, quando estiver pronta, ajude a escoar a produção de minério do sul e de grãos do oeste, e reduza também a emissão de gases do efeito estufa. [Veja mais informações sobre questões ambientais abaixo]

O primeiro trecho, com conclusão prevista para 2027, passará por 19 municípios, ligando a cidade de Caetité, no sudoeste da Bahia, até a Ilhéus, na região sul, com 537 quilômetros de extensão. Ao todo, a FIOL terá três trechos, com 1.527 km de extensão e ligará o futuro Porto de Ilhéus ao estado do Tocantins, onde fará conexão com a Ferrovia Norte-Sul.

O governo federal, junto com a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), trabalha para a concessão dos outros dois trechos: a FIOL II, entre Caetité e Barreiras, com obras em andamento, e a FIOL III, de Barreiras a Figueirópolis, que aguarda licença para instalação.

Essencial para concluir o processo de exportação, o transporte marítimo também é um desafio no estado. Com poucas linhas regulares operando diretamente na costa, a saída das mercadorias depende do fluxo de embarcações oriundas da África do Sul.

Além disso, os portos instalados às margens da baía de Todos-os-Santos passam por omissão portuária, ou seja, são ignorados por grandes navios, que pulam alguns terminais na rota, por causa da oferta relativamente menor de mercadorias.

“Neste cenário, a cabotagem foi uma solução inteligente implantada pelo governo, que concentra as exportações de vários estados da região Norte e Nordeste no terminal baiano, criando assim uma alternativa logística viável”, ressalvou Carlos Danilo.

A cabotagem é a navegação entre portos brasileiros utilizando via marítima ou fluvial. É um modo de transporte seguro, eficiente e que tem crescido mais de 10% ao ano no Brasil. Estado que possui maior extensão na costa brasileira, a localização da Bahia favorece a dinâmica comercial entre as regiões brasileiras.

A força da economia verde
Uma das estratégias para agregar valor aos produtos e ganhar espaço com a clientela estrangeira é o olhar mais cauteloso das empresas para metas de desenvolvimento sustentável, movimento super valorizado no mercado externo, que a Bahia já começou a investir.

Sinal disso é a implantação da primeira planta de hidrogênio verde do Brasil, a fábrica Unigel, no Polo Petroquímico de Camaçari, região metropolitana de Salvador. A previsão é produzir 100 mil toneladas anuais até 2030, com objetivo de atender o mercado interno. Considerado o “combustível do futuro”, o hidrogênio verde usa água e eletricidade como matéria-prima, sem geração de gás carbônico.

“Devemos continuar apostando em energias renováveis e hidrogênio verde, por exemplo, para disponibilizar ao mundo os excedentes de nossa produção de energia limpa, livre de carbono. A Bahia é considerada uma região potencialmente favorável ao desenvolvimento de hidrogênio verde, em função da disponibilidade de recursos de energia renovável de baixo custo”, disse Ricardo Alban, presidente da Fieb.
Na prática, o estado tem potencial para produzir mais de 60 milhões de toneladas de hidrogênio verde por ano, considerando os potenciais de energia solar e eólica associados à disponibilidade de recursos hídricos subterrâneo e de superfície. Os dados foram levantados pelo estudo pioneiro no país realizado pelo Senai Cimatec para o Governo do Estado da Bahia.

Energia limpa
A Bahia é vice-líder nacional na geração de energia eólica (31%), de acordo com dados da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE), e tem grande potencial para crescimento na geração de energia solar, devido às temperaturas elevadas na maior parte do território, durante quase todo o ano.

Segundo a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), o estado possui 265 parques eólicos e 46 parques solares fotovoltaicos em operação, com investimentos totais de R$ 34 bilhões.

“Quando a Bahia alcança esse lugar de segunda maior geradora de energia eólica do Brasil, estando também na corrida para ser líder em geração solar, facilita a exportação de outros produtos, além de gerar valor agregado, pois vende a ideia de um país baseado em energia limpa, valor importante para fechar negócios no exterior”, declarou o professor da Uefs, Vladson Menezes.

No cenário internacional, o Brasil deu um salto em capacidade produtiva em um período de 10 anos, saindo da 15ª posição, em 2012, para a 6ª posição em 2021, no ranking do Conselho Global de Energia Eólica.

CONHEÇA:

Em visita recente à China, o governador da Bahia, Jerônimo Rodrigues, visitou a empresa Sinoma Blade, maior fabricante de hélices usadas para produzir energia eólica do mundo. De acordo com o governo, a companhia confirmou a intenção de instalar uma fábrica em Camaçari.

Jerônimo e sua comitiva também estiveram esteve na sede da Goldwind, fabricante de aerogeradores e componentes de torres e administradora de parques eólicos. A empresa tem 40 torres em instalação na cidade de Terra Nova e pretende implantar uma fábrica de aerogeradores na Bahia.

China e questões geopolíticas
Outro passo importante para fortalecer as exportações baianas, segundo o professor Vladson Menezes, foi o lançamento recente da pedra fundamental das novas fábricas da montadora chinesa Build Your Dreams (BYD). Maior produtora de carros elétricos do mundo, a companhia vai ter unidades em Camaçari, na área onde funcionava a Ford, que encerrou as atividades em 2021.

O professor destaca que, avaliando pelo viés da geopolítica, a China passa atualmente por um grande boicote de seus produtos, de modo que os carros da BYD que serão produzidos no Brasil terão maior possibilidade de entrarem no mercado europeu, por exemplo.

“As questões geopolíticas estão mudando a lógica de mercado e fazendo surgir novas tendências, que estimulam a produção local de produtos antes importados, a importação de produtos de países amigos”, informou.
O professor ressaltou, porém, que “o mercado externo não pode ser analisado apenas pelo produto, mas por tudo que está incorporado, inclusive políticas públicas”.

“A Bahia, por exemplo, possui indicadores de educação muito ruins, e se eu quiser ter uma economia mais densa, preciso melhorar os padrões educacionais. O potencial existe na Bahia, estamos vendo esse movimento, mas é preciso continuar avançando em muitos aspectos”, concluiu.

Fonte: g1 Bahia

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