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Regime iraniano luta para sobreviver com execuções de manifestantes

Regime iraniano luta para sobreviver com execuções de manifestantes


Anistia Internacional calcula que 27 dissidentes foram condenados à morte em julgamentos sumários desde o início da onda de protestos. Manifestantes em Istambul, na Turquia, protestam contra condenações à morte no Irã por protestos.
Dilara Senkaya/ Reuters
Os protestos de iranianos contra o regime que controla o país há mais de quatro décadas entram no quarto mês sem indícios de arrefecimento. A ditadura dos aiatolás mostra a sua força com a condenação de 27 dissidentes à morte em julgamentos sumários, segundo os cálculos da Anistia Internacional, e a prisão de celebridades.
As execuções são por enforcamento e aos olhos do público, como a de Majidreza Rahnavard, de 23 anos, cujo corpo foi içado na semana passada por um guindaste de construção. Ele foi condenado por “inimizade contra Deus”, sob a alegação de que teria esfaqueado dois agentes da força paramilitar. Quando a família foi informada sobre a morte, o corpo do jovem já havia sido enterrado.
Além de Rahnavard, outro manifestante – Moshen Shekari – foi executado por porte de arma, num julgamento também considerado fraudulento pela Anistia Internacional. A organização Direitos Humanos do Irã, com sede em Oslo, estima que o número de condenados ultrapasse os 39.
Pelo menos 18 mil estão presos e aguardam julgamento, reativando o trauma nacional das execuções em massa ocorridas em 1988, por ordem do aiatolá Ruhollah Khomeini, que liderou a Revolução Islâmica.
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Naquele verão, de acordo com entidades de direitos humanos, cerca de 3 mil detidos foram assassinados pelo esquadrão da morte integrado pelo atual presidente iraniano, Ebrahim Raisi. Ativistas acreditam ser improvável repetir hoje o massacre naquela intensidade, dada a repercussão mundial que os protestos contra a morte da jovem Mahsa Amini, sob custódia da polícia, ganharam.
Atriz Taraneh Alidoosti no filme ‘O apartamento’
Divulgação
As informações cruzam as fronteiras do país e se amplificam mais rapidamente. No sábado (17), Taraneh Alidoosti, uma das atrizes iranianas mais populares, foi presa sob a acusação de espalhar falsidades sobre os protestos.
Ela atuou em “O Apartamento”, que ganhou o Oscar de melhor filme estrangeiro em 2017, e esteve em maio no Festival de Cannes para divulgar a produção “Leila’s Brothers”.
Aos 38 anos, a atriz, que se expôs sem véu, foi presa por “espalhar falsidades sobre os protestos”, segundo a mídia estatal. Ela publicou um post contra a execução de Moshe Shekari, no último dia 9. “Cada organização internacional que assiste a este derramamento de sangue e não age representa uma vergonha para a Humanidade”, escreveu.
Da mesma forma que Alidoosti, outras celebridades vêm corajosamente enfrentando a repressão do regime teocrático e reverberam as vozes dos manifestantes. A alpinista Elnaz Rekabi competiu no exterior sem o véu e teve a casa da família demolida.
Imagem do jogador iraniano Amir Nasr-Azadani
AFP
Ídolo do Iranjavan, o jogador de futebol Amir Nasr Azadani foi condenado à morte por participar dos protestos. Parentes do rapper Toomaj Saleh, de 32 anos, temem que ele tenha destino semelhante após ter sido preso violentamente por incentivar os protestos.
Como observou o professor Abbas Milani, diretor do programa de estudos iranianos da Universidade de Stanford, a execução de condenados é barbárie de Estado e, quando realizada em público, é relíquia da barbárie medieval. É dessa forma que o regime iraniano vem lutando para sobreviver.

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